quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Criancinhas

Este é um artigo publicado na "Visão", é um bocadinho extenso bem sei, mas vale bem a pena ler!!!!

A DEVIDA COMÉDIA

Miguel Carvalho


"A criancinha quer Playstation. A gente dá.

A criancinha quer estrangular o gato. A gente deixa.

A criancinha berra porque não quer comer a sopa. A gente elimina-a da ementa e acaba tudo em
festim de chocolate.

A criancinha quer bife e batatas fritas. Hambúrgueres muitos. Pizzas, umas tantas. Coca-Colas, às litradas. A gente olha para o lado e ela incha.

A criancinha quer camisola adidas e ténis nike. A gente dá porque a criancinha tem tanto direito
como os colegas da escola e é perigoso ser diferente.

A criancinha quer ficar a ver televisão até tarde. A gente senta-a ao nosso lado no sofá e passa-lhe o comando.

A criancinha desata num berreiro no restaurante. A gente faz de conta e o berreiro continua.

Entretanto, a criancinha cresce. Faz-se projecto de homem ou mulher.


Desperta.

É então que a criancinha, já mais crescida, começa a pedir mesada, semanada, diária. E gasta
metade do orçamento familiar em saídas, roupa da moda, jantares e bares.

A criancinha já estuda. Às vezes passa de ano, outras nem por isso. Mas não se pode pressioná-la
porque ela já tem uma vida stressante, de convívio em convívio e de noitada em noitada.

A criancinha cresce a ver Morangos com Açúcar, cheia de pinta e tal, e torna-se mais exigente comos papás. Agora, já não lhe basta que eles estejam por perto. Convém que se comecem a chegar à frente na mota, no popó e numas férias à maneira.

A criancinha, entregue aos seus desejos e sem referências, inicia o processo de independência
meramente informal. A rebeldia é de trazer por casa. Responde torto aos papás, põe a avó em
sentido, suja e não lava, come e não limpa, desarruma e não arruma, as tarefas domésticas são
«uma seca».

Um dia, na escola, o professor dá-lhe um berro, tenta em cinco minutos pôr nos eixos a criancinha que os papás abandonaram à sua sorte, mimo e umbiguismo. A criancinha, já crescidinha, fica traumatizada. Sente-se vítima de violência verbal e etc e tal.

Em casa, faz queixinhas, lamenta-se, chora. Os papás, arrepiados com a violência sobre as
criancinhas de que a televisão fala e na dúvida entre a conta de um eventual psiquiatra e o derreter do ordenado em folias de hipermercado, correm para a escola e espetam duas bofetadas bem dadas no professor «que não tem nada que se armar em paizinho, pois quem sabe do meu filho sou eu».

A criancinha cresce. Cresce e cresce. Aos 30 anos, ainda será criancinha, continuará a viver na
casa dos papás, a levar a gorda fatia do salário deles. Provavelmente, não terá um emprego.

«Mas ao menos não anda para aí a fazer porcarias».

Não é este um fiel retrato da realidade dos bairros sociais, das escolas em zonas problemáticas,
das famílias no fio da navalha?

Pois não, bem sei. Estou apenas a antecipar-me. Um dia destes, vão ser os paizinhos a ir parar ao
hospital com um pontapé e um murro das criancinhas no olho esquerdo. E então teremos muitos
congressos e debates para nos entretermos."

Artigo publicado na revista VISÂO online

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Em contrapartida, no nosso tempo era mais assim....

8 comentários:

Unknown disse...

Um artigo que faz todo o sentido e que todos fazem de conta que ainda está longe, mesmo sabendo que esta já é a realidade!

Quem disse que é fácil educar? Não é não, pois não!!

Bijucas
:bye

Pipleta disse...

Infelizmente isto que li é a nossa realidade...arrepio-me só de pensar...

Seremos assim???? Eu não quero...ou eu não queria...vamos ver...

Beijinhos

Fica bem

Anónimo disse...

Bom artigo sim senhor, dá que pensar... isto de fazer as vontadinhas todas ás criancinhas é muito mais que isso!

jocas

Anónimo disse...

São poucos os pais conscientes do futuro e mesmo do presente dos seus filhos! Restanos a nós, rever a nossa educação e não permitir que os nossos filhos sejam os farrapos de amanhã! Não hesitem em dar uma palmada quando necessário e parem de passar a mão na cabeça! Se um professor lhe acertou, certamente mereceu... ninguém o faz por mero acaso! Quanto às vontades... custa mas um pulso de ferro dará bons resultados no futuro! Assim o espero com a minha Abelhinha!

ideiasconstrutivas disse...

Tiveste em Sesimbra mulher?!?!?!
E ali mesmo no muro?!?!?!?
Aiiiiiiiiiiiii
A sério?!?!?!
Olha que pena não ter sabido disso!
hahahah
E como está a boneca Jasmin?!
Beijocas nossas
Rute Maravilha

Anónimo disse...

Olá
Este artigo é uma realidade cada vez mais presente na nossa sociedade...não pensem que ainda distante, muito pelo contrário.
O meu filho Miguel foi completamente "estragado" pelos meus pais que sempre lhe deram tudo que ele desejava. Resultado foi um miudo que não dava valor ao dinheiro, por exemplo emprestava coisas carissimas como a playstation da mesma forma que no meu tempo eu emprestava um livrinho do "Tio Patinhas". Eu como mãe de 1ª viagem quando dei conta do valente estrago já não foi possivel dar a volta a não ser com medidas mais "radicais".
O Miguel foi passar 9 meses a casa do pai no Brasil. Tive que o afastar do ambiente dele, da vida de constante divertimento.
Lá no Brasil não lhe faltou nada, mas faltou o dinheiro para fazer e comprar o que lhe apetecia. Se queria algo tinha que trabalhar para ter (na empresa do pai).O facto de estar durante 9 meses longe daqueles que amava serviu para lhe fazer ver que existem coisas muito mais importantes na vida que gastar dinheiro e adquirir coisas.
Voltou o mesmo Miguel, carinhoso simpatico e comunicativo, mas mais orientadinho monetáriamente.
Aplicou-se nos estudos, e agora trabalha desde Outubro e já foi promovido...claro que de vez em quando tem uns "vaipes" de antigamente mas depressa se corrige.
Educar filhos é muito complicado.
E como se costuma dizer "paga o justo pelo pecador" e assim é, o Ricardinho agora para receber algo dos avós so com o meu consentimento e mesmo eu reconheço que sou muito mais rigorosa em determinados assuntos do que fui com o Miguel...se vai resultar não sei...ele tem 5 anos e um grande caminho pela frente até chegar aos 20.
Mas fica desde já combinado que daqui a 15 anos cá estarei para fazer o balanço:)
Beijocas
Mariakida

Anónimo disse...

é dificil educar sim senhora

espero estar a dar o meu melhor?????
silvixana

Anónimo disse...

Bem este é daqueles exemplos q sinceramente rezo para escapar, mas sei que num instante sem dar por isso sou igual a tantos outros q tb não queriam.
Rezo pelo bom senso, pelo meio termo, pelo bem saber dar educação. Enfim rezo para ser como os meus pais...a educação q me deram não foi má.
Beijinhos Sain
Carla e filhotes A razão do meu ser-Clube dos Pais